Impactos socioambientais no tempo e espaço: discussões sobre o Antropoceno e a história dos conflitos ecológicos

Resumo: A coletividade vive presentemente uma crise sem precedentes: se por um lado o homem conquistou consideráveis benefícios, expandindo sua qualidade de vida, por outro lado a Terra vive grandes dilemas ambientais e sociais. Espaços naturais foram drasticamente reduzidos pela ação antrópica, espécies animais e vegetais foram extintas, rios e mares contaminados, tudo em nome de um modelo socioeconômico dilacerador e excludente, denominado Capitalismo. Até parece terrorismo ambiental, mas se o ser humano continuar com sua ação devastadora, o próprio prejudicado será ele mesmo.  O presente artigo analisa brevemente o histórico, a situação atual e as perspectivas dessa realidade. Inicia-se com uma breve discussão do lento processo de formação do planeta e que condições ideais propiciaram o surgimento das complexas formas de vida. Em seguida, aborda o aparecimento do homem, sua trajetória histórica e como ele imprimiu marcas e seqüelas no mundo. Depois considera ao longo da História Ambiental mundial, a revolução e o desenvolvimento resultantes de sua expansão, adequação e ocupação pelo ecúmeno. Apresentam análises de crescimento populacional, explosão demográfica e melhorias na qualidade de vida como elos propulsores. E posteriormente avalia os impactos ambientais e a desigualdade social, ambos resultantes de um crescimento desordenado associado ao modelo econômico exploratório. Por fim, encerra com as perspectivas do Desenvolvimento Sustentável, trazendo reflexões e propostas para a construção de um mundo melhor, mais justo e harmônico.

Palavras-chave: Dinâmicas Populacionais, Impactos Socioambientais, Qualidade de Vida

Abstract: Collectivity is currently experiencing an unprecedented crisis: if on the one hand man has achieved considerable benefits, expanding his quality of life, on the other hand the Earth lives great environmental and social dilemmas. Natural spaces were drastically reduced by anthropic action, animal and vegetable species were extinct, rivers and contaminated seas, all in the name of a dilacerating and excluding socioeconomic model, called Capitalism. It even looks like environmental terrorism, but if the human being continues with his devastating action, he himself will be harmed. This paper briefly analyzes the history, current situation and perspectives of this current reality. It begins with a brief discussion of the slow process of formation of the planet and that ideal conditions gave rise to the complex forms of life. It then addresses the emergence of man, his historical trajectory and how he imprinted marks and sequels on the world. Then he considers throughout the world Environmental History, the revolution and the development resulting from its expansion, suitability and occupation by the ecumene. It presents descriptions of population growth, demographic explosion and improvements in the quality of life as propellant links. And later it evaluates the environmental impacts and the social inequality, both resulting from a disorderly growth associated to the exploratory economic model. Finally, it closes with the perspectives of Sustainable Development, bringing reflections and proposals for the construction of a better, more just and harmonious world.

Keywords: Population Dynamics, Socio-environmental Impacts, Quality of Life

Sumário: Introdução; 1. O aparecimento do homem: as primeiras marcas no planeta; 2. A revolução social: os primeiros impactos históricos; 3. Qualidade de vida: um incentivo ao crescimento populacional; 4. Um caos se instala: impactos ambientais e desigualdades sociais; 5. Desenvolvimento sustentável: repensando o futuro de planeta; Considerações finais; Referências.

INTRODUÇÃO

O Antropoceno esta sendo defendido como a era geológica dos conflitos ecológicos. Em temos pretéritos, as dinâmicas populacionais afetaram diretamente à qualidade de vida. Acontece que no decorrer da história mundial, o patrimônio geológico sendo apropriado dentro do espaço geográfico trouxe significativas alterações nas paisagens naturais. Assim pretende-se empreender uma breve análise histórica da sociedade humana, percebendo-a como multiplicadora de impactos e conflitos. Nasceria, em tempos recentes, que alguns teóricos chamam de Antropoceno, a necessidade legal de mediação. Surgia então, na contemporaneidade, o direito ambiental, uma área de extrema relevância para a vida em sociedade. O tempo geológico é chave mestra quando se empreende a análise das relações entre homem e natureza, pois a formação da Terra elencou numa extensa história ambiental, as condições propícias ao aparecimento da vida (DANI, 1994). O planeta da vida apresenta uma longa narrativa com múltiplas permanências e rupturas. Pressões originárias das profundezas da Terra modificaram a crosta terrestre, os continentes se movimentaram pela superfície terrestre formando cadeias montanhosas que desapareciam gradativamente ao longo dos tempos; rochas se decompuseram lentamente pela ação do calor e da umidade; a chuva, as geleiras, os rios e o vento modelaram a superfície cavando vales e depositando sedimentos nas planícies; regiões antes frias se aqueceram e vice-versa (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Nestes ambientes inicialmente hostis, com paisagens erosivas e paisagens deposicionais, os primeiros seres vivos deram seus passos com inúmeras espécies novas surgindo e evoluindo e outras se extinguindo. Assim complexas formas biológicas moldadas pelas condições geoambientais apareciam e desapareciam fazendo e refazendo a teia da vida. E o tempo geológico (Figura 01), retratando parte da história ambiental planetária, retrata também o tempo ecológico e, portanto o tempo da vida (FAIRCHILD; TEIXEIRA; TAIOLI; 2000).

No início a Terra era uma bola incandescente (SCOTESE, 2001). Neste estado inicial de fusão, metais densos e pesados se alojaram no centro do planeta, originando o núcleo, composto por alumínio e ferro (FAIRCHILD; TEIXEIRA; TAIOLI; 2000). Na parte externa ficaram os elementos leves que viriam, num tempo de um bilhão de anos, a constituir a crosta terrestre ou a litosfera, onde se encontrariam minerais estratégicos para a sociedade (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Em volta dessa esfera incandescente havia uma atmosfera muito diferente da existente na atualidade (SCOTESE, 2001). À medida que a litosfera esfriava, e solidificava, do interior das rochas em fusão e das erupções vulcânicas, saíam gases e vapores que formavam uma camada de nuvens escuras envolvendo a Terra e impedindo que os raios solares a atingissem (FAIRCHILD; TEIXEIRA; TAIOLI; 2000). Esse contínuo e lento processo de resfriamento aumentava o volume de vapor d’água, desencadeado chuvas que nem chegavam a atingir o planeta, pois se evaporavam (SCOTESE, 2001). Lentamente gases como o gás carbônico, o hidrogênio, o monóxido de carbono e o nitrogênio ocuparam a atmosfera. (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

Há quase dois bilhões de anos atrás, o teor de oxigênio atmosférico era apenas 1% do atual (FUTUYMA, 2009). Nessa época constituiu-se a camada de ozônio nos estratos elevados da atmosfera (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Muitos milhões de anos transcorreram para que essa camada se transformasse no escudo protetor contra a radiação ultravioleta, prejudicial à vida, de atingir o planeta (FUTUYMA, 2009). Uma nova esfera atmosférica, menos carregada e escura, formou-se devido ao resfriamento da crosta terrestre e a diminuição de fumaça e gases. Somente então, os raios solares atravessaram a atmosfera e atingiram as superfícies líquidas e sólidas do planeta. Quando se completou o resfriamento da litosfera, caíram chuvas, formando lagos, mares e oceanos Um pouco mais de um bilhão de anos após a formação da Terra, os relâmpagos e trovões ao bombardearem os gases, permitiram combinações de moléculas simples que pararam nos lagos, mares, oceanos, e rios desenvolvendo as formas iniciais de vida (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Como a temperatura na água sofre menos variações do que nos continentes, ela se tornou o ambiente mais favorável ao surgimento da vida no planeta, devido ao seu equilíbrio térmico (FUTUYMA, 2009). A presença de sais minerais dissolvidos na água favoreceu o aparecimento das algas primitivas e outros seres vivos, num período entre cerca de três bilhões a 600 milhões de anos atrás (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Assim, criando sintonia entre os diferentes ambientes se consolidaram os primeiros seres vivos. A energia solar seria sintetizada por alguns e transferidas a outros num complexo e harmônico sistema ecológico. 

As algas utilizar-se da energia solar para a fotossíntese, inspirando gás carbônico e exalando oxigênio aumentavam gradualmente sua abundância na atmosfera (FUTUYMA, 2009). De formas de vidas mais simples surgiram outras mais complexas, a medida em o planeta também se transformava (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Há mais ou menos 570 milhões de anos, no Cambriano surgiu uma rica fauna de esqueleto duro como aranhas, insetos e ostras, e há aproximadamente 450 milhões de anos estavam presentes todas as classes ancestrais dos peixes (VEGA; DIAS, 2009). Sendo a vida um fenômeno bastante complexo, nela a mutação e a seleção natural são fatores decisivos (FUTUYMA, 2009). Como havia ligeiras diferenças entre as espécies, sobreviviam as mais adaptadas às condições ambientais deixando posteriormente descendentes, enquanto outras desapareceriam (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). As alterações nas condições do meio físico ocorridas na história natural do planeta (Figura 02) fizeram com que uma série de plantas e animais desaparecesse ficando memorizadas na terra através dos fósseis (VEGA; DIAS, 2009). O ambiente ditava a ordem gerando desafios para os quais determinadas espécies transformam-se, criando maior habilidade, enquanto outras se extinguiam (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

A passagem da vida da água para os continentes, povoando-os, deu-se lentamente, por exigir condições adequadas (POUGH, et. al.1999). Enquanto a vida se multiplicava nos mares, os continentes, por muito tempo, permaneceram desérticos, devido à ação erosiva do ciclo hidrológico e ao efeito esterilizante dos raios ultravioletas (FAIRCHILD; TEIXEIRA; TAIOLI; 2000). Após a formação da camada de ozônio, embora o teor de oxigênio fosse ainda pequeno, algumas espécies vegetais tiveram condições para crescerem e se reproduzirem (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Durante algum tempo, as plantas terrestres, dentre elas, samambaias de porte arbóreo, denominadas samambaiaçus, estabilizaram os processos de erosão e sedimentação e um tapete vegetal se formou nos locais mais propícios (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Associados aos vestígios dessa primeira flora há uns 400 milhões de anos, encontravam-se crustáceos, insetos e aranhas, os animais pioneiros na ocupação desse novo ambiente. Se alimentando de folhas e detritos, contribuíram para a formação do húmus e, portanto para o enriquecimento do solo com matéria orgânica que seria assimilada pelos ecossistemas (FUTUYMA, 2009). Os ciclos biogeoquímicos e a reciclagem dos nutrientes permitiam alternâncias ambientais denominadas de sucessão ecológica com espaços inicialmente povoados por espécies pioneiras, e sucessivamente, substituído por espécies maiores e biologicamente exigentes. Na medida em que a vegetação aquática e ribeirinha se tornava cada vez mais diversa e abundante, grandes florestas úmidas se ampliaram (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

Em um ambiente de água estagnada, com excesso de vegetação, o teor de oxigênio é baixo devido ao estado constante de putrefação, sendo impossível retirar oxigênio do ar para a sobrevivência (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Um peixe capaz de respirar e de se locomover fora da água teria grandes vantagens, pois se arrastaria de uma lagoa que estivesse secando até encontrar água abundante, originando-se os anfíbios (POUGH, et. al. 1999). Há cerca de 350 milhões de anos, esses anfíbios, tiveram área reduzida em virtude dos períodos de seca, selecionando aqueles que conseguiam viver mais tempo fora da água e dando origem aos répteis, que serão de fato os primeiros conquistadores da Terra, surgindo há cerca de 300 milhões de anos e reinando quase que absolutamente, durante 150 milhões de anos (LAMANA; BRANCO, 2009). Encontrando alimentos em abundância, alguns chegaram a ter até 50 toneladas: os dinossauros (figura 03) que desapareceram há 65 milhões de anos no fim do Cretáceo, em virtude de mudanças climáticas ocasionadas pela colisão de um grande meteoro na Terra (LAMANA; BRANCO, 2009).

Há cerca de 200 milhões de anos, surgiram as aves e os mamíferos, que ao fato de manterem a temperatura corporal, apesar da variação da temperatura externa, espalharem-se pelos mais diversos meios geográficos terrestres (POUGH, et. al, 1999). Dos mamíferos surgiram entre 60 e 70 milhões de anos atrás, os parentes mais próximos do homem: os primatas (DANI, 1994). O ancestral mais antigo teria sido um animal chamado Plesiadapis, que há 70 milhões de anos, no Paleoceno, abandonou o chão da floresta subindo para as árvores (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Suas mãos se adaptaram para agarrar galhos e buscar alimentos, com unhas antes de anatomia achatada objetivando a coleta de sementes e insetos no chão, remodeladas biologicamente para locomover-se entre os galhos (CUNHA, 2011). Dele se originaram várias espécies de primatas, que seriam ancestrais comuns para as espécies atuais.  A história ambiental é constituída, nesse sentido, por uma sequência de permanências e alternâncias, extinções e evoluções. As florestas, que ocupavam uma área mais extensa no planeta, recuaram devido a mudanças de temperatura e umidade (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Com o recuo da cobertura florestal e novas condições climáticas, inovou-se a formação vegetal, com o advento da savana, lentamente se desenvolvendo, reduzindo a disponibilidade de alimentação e abrigo, fazendo com que os mesmos se adaptassem biologicamente para obter alimento e se proteger das oscilações climáticas (MENDES, 1960). Nesta passagem da floresta para a savana é que se criaram condições preponderantes ao surgimento dos hominídeos (CUNHA, 2011).

1. O APARECIMENTO DO HOMEM: as primeiras marcas no planeta

Nasce o ser humano e com ele nasce a cultura (DANI, 1994). O aparecimento do homem e suas primeiras marcas no planeta vão reconfigurar o tempo geológico e sua ação moldadora da superfície (CUNHA, 2011). Agora as forças naturais com seus ciclos contínuos já não atuarão mais sozinhas. Surge então, o espaço geográfico, o ecúmeno, o ambiente do homem, um elemento cientificamente estudado e empreendido inicialmente a partir de perspectivas interdisciplinares entre Ecologia, Filosofia, Geografia, História e Sociologia (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Hoje esta discussão teórica permeia os vários campos de formação cientifica, com destaque para a Antropologia e a Arqueologia. Os Australopithecus, coletores vegetais, que se voltaram posteriormente para a caça animal, se caracterizaram pela associação com seus semelhantes empreendendo ações coletivas complexas. Foram eles que criaram a técnica, desenvolvendo assim os primeiros objetos trabalhados (CUNHA, 2011). Os Pitecantropos eram mais avançados tecnicamente, apresentando devido a isso, uma distribuição geográfica e uma apropriação ambiental mais ampliada. Posteriormente com o Homem de Neandertal se intensifica a comunicação por gestos e os procedimentos técnicos são aperfeiçoados (DANI, 1994). Um pensamento mais profundo e simbólico aparece, fazendo com que a terra, sustento dos animais e homens assumisse um novo valor filosófico, sendo considerada por eles como a Mãe que abriga, alimenta e protege (CUNHA, 2011). Gaia, a deusa terra se torna a compreensão existencial e fenomenológica da Ecologia Profunda e da conexão com o Cosmos. Devido a esse sentimento de caráter religioso, vários lugares se tornam sagrados, se tornando espaços de visitação e veneração.  Os primeiros hominídeos nômades avançaram sobre a Terra, durante as fases glaciais, se deslocando dos terraços aluviais e extensões tabulares para as saliências e abrigos rochosos (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

A caça vital, porém os colocavam em completa situação de dependência da natureza, gerando angústia e obsessão, representadas através das pinturas rupestres (CUNHA, 2011). A caverna é um espaço acolhedor e quente, cujas paredes propiciarão estas manifestações artísticas. Devido à necessidade de sobrevivência, desenvolvem-se grande variedade de armas para caçarem, mas o êxito das caçadas dependia não apenas da locomoção bípede e do uso de instrumentos, mas também da ampliação da astúcia para identificar rastros e comportamentos animais (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Através da memorização dos hábitos dos animais e suas fontes de água e alimento, acumularam informações, que posteriormente favoreceram o desenvolvimento da inteligência (CUNHA, 2011). A vida de caçador implicava, ainda, a existência de cada vez mais complexas relações sociais, onde a cooperação entre os indivíduos permitiam caçadas de maior porte. O incremento de estratégias comuns nas caçadas tornou obrigatório o desenvolvimento da linguagem objetivando a troca de informações e de experiências entre os indivíduos do grupo, fazendo também com que surgissem as primeiras lideranças (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

Lentamente o Saara vai se tornando deserto, transferindo populações locais para as áreas periféricas, levando-os a se chocarem com a grande floresta equatorial, inicialmente hostil ao povoamento (CUNHA, 2011). O Homo habilis dispõe de um artifício capaz de exercer grandes alterações no ambiente, o fogo, espalhando uma marca nitidamente inconfundível por todo o planeta (RODRIGUES, 1989). A conquista do fogo, mais do que as ferramentas de pedra, amplia significativamente a capacidade de atuação humana sobre a natureza e de sua submissão cada vez menor aos ciclos naturais (CUNHA, 2011). Até essa época, o homem tinha um nicho ecológico como qualquer outro animal e era regulado pelas condições naturais, sendo seu impacto ambiental nulo (DANI, 1994). No momento em que domina o fogo, cria um microclima que carrega consigo, ampliando sua ação cultural e geográfica, vivendo em diversas áreas da região equatorial às regiões polares e com isso progressivamente ele vai se distanciando da natureza (CUNHA, 2011).

2. A REVOLUÇÃO SOCIAL: os primeiros impactos históricos

Desde que há existência do homem no planeta, observa-se a ocupação e exploração de espaços a apropriação dos recursos naturais essenciais (DANI, 1994). A presença humana sempre significou percepção, pensamento e reflexão. Essas qualidades fizeram dos humanos seres insubmissos e independentes, portanto, diferenciando-os dos demais animais (CUNHA, 2011). Este ser pensante torna-se rebelde em relação ao seu contexto original, transformando-se em conquistador de espaços e recursos (RODRIGUES, 1989). Com perspectivas cada vez mais favoráveis, as populações humanas aumentaram, ampliando assim suas áreas de domínio e influência (CUNHA, 2011). A explosão demográfica foi o maior fato do Neolítico, provocando uma revolução socioeconômica e tecnológica. Com climas mais temperados, a estepe se enriquece de gramíneas, e árvores crescem por todos os lados, fornecendo madeira para ser trabalhada e frutos e sementes para serem colhidos. A ancestralidade e os mitos reguladores vão sendo revogados com a arte rupestre desaparecendo e a magia tornando-se desnecessária (GONÇALVES; BARBOSA, 1988).

Há cerca de 10.000 anos começam as primeiras experiências de domesticação de animais e de agricultura testemunhando uma transição histórica na vida do homem: a passagem da vida nômade para a sedentária (DANI, 1994). Inicia-se no Crescente Fértil uma mudança de atitude humana e uma transformação radical em relação à natureza: os seres humanos eram, até então, passivos e dependentes em relação a ela. A partir do Neolítico, eles a dominam, a transformam, a conquistam, domesticando animais, plantando vegetais, escavando minas e poços e moldando a terra em cerâmicas para serem usadas como utensílios. A partir de então, o homem já não é mais o mesmo, e a natureza também não será mais a mesma, pois onde existiam campos e florestas aparecerão às pastagens e as plantações (DANI, 1994).  Com o início dessa Revolução Agrícola, os povos alteraram profundamente os ciclos naturais e ecossistemas (RODRIGUES, 1989). Para plantar ou criar era necessário derrubar e atear fogo às matas para “limpar” os terrenos, expondo os solos à erosão e os esgotando rapidamente com os constantes cultivos e queimadas. Depois de alguns anos era necessário abandoná-los ocupando solos vizinhos, recomeçando o ciclo destrutivo (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Porém mesmo com progressivas devastações, os seres humanos ampliaram significativamente seus domínios, criando, plantando, colhendo e acabando por exceder a produção agrícola. Como a agropecuária criou-se um excedente permanente de alimentos e o homem aumentou sua utilização da biomassa, gastando menos tempo em procurar alimento, boa parte deste tempo seria usado nas atividades culturais de armazenamento do excedente a ser estocado para os períodos de escassez (DANI, 1994). Assim surgiram os saberes e os fazeres e consecutivamente os sabores. Jeitos de ser e estar no mundo se consolidavam definindo territórios culturais com costumes, crenças, línguas e tradições. Até o século XVIII, os diversos povos viveram, basicamente, da agricultura. A população habitava as áreas rurais e somente um número muito pequeno, as cidades, onde se desenvolviam as atividades político-administrativas e religiosas (MOURA, 2016).

Com o aperfeiçoamento da cultura agrícola, o aumento e a regularidade da produção de alimentos, a população humana começou a crescer, desenvolvendo-se a partir de então, as primeiras cidades modificando a organização social com a formação dos primeiros grupos de produção, serviços e de consumo (RODRIGUES, 1989). Com a fixação em locais favoráveis e uma quantidade maior de víveres, surge então um novo uso do fogo: caldeireiros, forjas dos ferreiros, fornos das olarias, sopradores de vidros e outras oficinas (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). O conhecimento e a utilização de metais como o bronze e o cobre propiciaram a revolução social, inaugurando o extrativismo mineral e as mazelas da mineração. Na agricultura, os instrumentos rudimentares são substituídos por instrumentos mais fortes e resistentes feitos de metal. Armas e objetos de adorno são fabricados e o artesanato vai aos poucos adquirindo autonomia com os artesões dedicando, mais tempo às suas atividades (MOURA, 2016). O excedente agrícola trouxe mais tempo às pessoas, possibilitando uma divisão social do trabalho, a hierarquização e a separação entre o campo e cidade. A escrita surgirá na cidade, como forma de organizar o conhecimento e registrar a história humana, transmitindo-os de uma geração para a outra, porém os habitantes do campo serão privados do acesso a ela (RODRIGUES, 1989). O saber serve para justificar a separação entre os que sabem e os que não sabem criando meios de coerção e segregação. A partir de então os conflitos entre povos diferentes se estabelecerão dentro das próprias comunidades. Interesses comuns dentro do projeto social e da coletividade não mais se evidenciarão. A comuna de todos gradativamente vai se tornando, numa sociedade fragmentada e dilacerada de grupos organizados em prol de interesses específicos. É dada a largada para o egoísmo, a alienação e a exclusão. 

Sabe-se, principalmente pelos estudos do Medievo, que até a Revolução Francesa era grande o poder socioeconômico da Igreja Católica, inclusive nos negócios políticos (MOURA, 2016). Com o surgimento do Capitalismo e a ascensão ao poder da Burguesia, interessada em explorar os recursos naturais com objetivos lucrativos, criou-se uma situação favorável para se questionar os dogmas religiosos (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). As cidades se desenvolvem lentamente e o crescimento da população é mais ou menos uniforme e lento até a Revolução Industrial, que marca o início da grande explosão populacional humana (RODRIGUES, 1989). As atividades comerciais e o artesanato somente ganham força nas cidades a partir da Revolução Mercantil, nos século XV e XVI. Até então, o frágil desenvolvimento mercadológico relacionou-se ao fato de a produção objetivar a troca comercial e sim a satisfação das necessidades de cada grupo (MOURA, 2016). A fabricação artesanal não acompanhava o crescimento do comércio e devido a constante ampliação da concorrência e a necessidade de aumentar a produtividade, as tecnologias se aperfeiçoaram com o surgimento das fábricas, permitindo à produção além dos limites (RODRIGUES, 1989).

Com a utilização da máquina a vapor, movida a carvão mineral, o Capitalismo deu um grande salto e mudou totalmente a relação homem/natureza (DANI, 1994). A nova dinâmica do tempo e a preocupação de se produzir cada vez mais conseguiram uma vitória contra os trabalhadores e a natureza (MOURA, 2016). Agora, os tempos são outros e no compasso do relógio, o operário tem que acompanhar o ritmo das máquinas. A capacidade de produção cresce assustadoramente, aumentando, em conseqüência, a necessidade de matérias primas e intensificando os impactos ambientais (RODRIGUES, 1989). No entanto, não foi tranqüila e pacífica a consolidação da Revolução Industrial, pois no interior das fábricas, o barulho infernal das máquinas era ensurdecedor e o trabalhador respirava um ar contaminado (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Com a descoberta da iluminação de interior com luz elétrica, as jornadas de trabalho foram aumentadas, bem como o emprego de crianças e mulheres gerando a desumanização da vida. Pequenos artesãos foram à miséria por não acompanharem o desenvolvimento tecnológico e os trabalhadores organizaram movimentos para quebrarem as máquinas que ameaçavam seus empregos. Houve também considerável aumento nos índices de mortalidade infantil e o êxodo rural, inaugurando um novo período de mazelas sociais (RODRIGUES, 1989).

A Revolução Industrial não foi simplesmente uma inovação nas técnicas de produção, sendo também uma transformação nas relações humanas, e consolidando uma nova estrutura social, denominada Capitalismo. As cidades começaram a ficar lotadas de gente, enquanto os campos iam sendo despovoados (RODRIGUES, 1989). Verdadeiros formigueiros humanos se formaram junto às fábricas, que não estavam preparadas para receber tantas pessoas. As poluições da água, do ar, e sonora atingiram níveis alarmantes (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Fora das fábricas, os rios e o ar foram poluídos pelo lixo tóxico e pela fumaça lançada pelas chaminés. O rio Tamisa, em Londres, ficou praticamente sem peixes e diversos animais desapareceram devido à poluição ambiental. Os problemas ecológicos se acentuaram, agravando ainda mais as condições de vida da maioria da população, particularmente daqueles que se viam obrigados a morar próximo aos insalubres distritos industriais. As habitações eram precárias e o risco de doenças contagiosas devido à falta de saneamento básico ameaçava constantemente a vida dos novos habitantes das cidades (RODRIGUES, 1989). Somente com o correr do século XIX e, principalmente no século XX, as condições de moradia e saneamento básico melhoraram nas cidades.

Com a Revolução Industrial, o comércio que sempre esteve ligado à cidade, também foi revolucionado, afetando a vida das pessoas que passaram a depender mais ainda dele. A urbanização se acentuou, os meios de comunicação e de transporte foram também revolucionados, dando-se ênfase às estradas de ferro. Quanto mais se produzia, mais estradas tinham que ser abertas, e novas regiões eram incorporadas, ampliando-se cada vez mais a circulação, o comércio e a prestação de serviços (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). A publicidade e a propaganda ganharam uma enorme importância para estimular o consumo das pessoas. A agricultura e a pecuária tornaram-se também um negócio lucrativo e as técnicas agrícolas foram renovadas. Para repor a fertilidade dos solos, surgiu a indústria química com seus adubos e fertilizantes (RODRIGUES, 1989). A monocultura tornou os ecossistemas mais vulneráveis a insetos e pragas e os inseticidas e pesticidas entrariam em ação, “controlando” o problema e contaminando rios, terrenos e alimentos. Os solos, que geologicamente duraram séculos para se formar, eram erodidos em poucas horas de chuvas torrenciais, sem a cobertura vegetal original. Alguns recursos naturais se esgotaram e as riquezas minerais não se renovavam mais. Era o indicio de uma nova era, denominada de Antropoceno e indicadora de um possível caos no futuro humano (MOURA, 2016).

3. QUALIDADE DE VIDA: um incentivo ao crescimento populacional

O lento crescimento da população humana nas fases pré-industriais estaria relacionado à força da cosmologia, dos mitos reguladores e das tradições. Na antigüidade vários povos criaram rituais de sacrifícios humanos aos deuses, como maneira de reduzir a população e assim afastar o perigo da fome. Na primeira fase do homem na Terra, quando ele ainda era caçador e coletor, a população foi estimada em três milhões de seres humanos (DANI, 1994). Durante muito tempo os índices de mortalidade eram muito elevados. A população em geral tinha uma vida curta. Luzia, a primeira mulher da Pré-história brasileira encontrada na Região cárstica de Lagoa Santa, MG viveu até os 35 anos. A segunda fase, de agricultura de subsistência e pastoreio, a população mundial andava em torno dos oito milhões de habitantes. O aperfeiçoamento das técnicas agrícolas melhorou bastante as condições de vida da população. Posteriormente, melhorias no saneamento básico e saúde ambiental, bem como as conquistas sociais e trabalhistas elevaram as taxas de natalidade. Na terceira fase, caracterizada pela urbanização e na época dos grandes descobrimentos, a população atingiu a cota de 400 milhões de almas. A migração para os grandes centros urbanos tornou-se muito intensa devido aos atrativos que eles oferecem ao homem do campo (DANI, 1994). Após a Revolução Industrial houve alteração na estrutura familiar, com a queda de numerosos tabus, principalmente ligados à atividade sexual, que serviam para manter estáveis as culturas tradicionais. As mudanças europeias refletiram em todo o mundo através do colonialismo, onde a “Nova Ordem” é levada às sociedades ancestrais conduzindo-as à insegurança e à miséria (RODRIGUES, 1989). O atual caos africano deriva deste período quando a África foi partilhada entre os estados europeus desconsiderando-se seus povos, culturas, línguas, tradições e territórios ancestrais. Destruídos os mitos reguladores, para sobreviver ao caos psicológico, às populações do hoje denominado Terceiro Mundo foram forçadas a procurar novas estratégias e formas de segurança. Uma delas é a de ter mais filhos, que possam, à custa de seu trabalho, ou muitas vezes de esmolas ou furtos, garantir o sustento da família (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Desde que o homem apareceu na história do planeta surgiu o problema do crescimento descontrolado da população, sendo que a explosão demográfica iniciou-se na quarta fase, na era da tecnologia moderna (DANI, 1994). Em 1780 eram 800 milhões de habitantes, que duplicaram no início do século XIX. Em 1850 o planeta já comportava um bilhão de habitantes, entre 1850 e 1930 subiu para dois bilhões de habitantes, de 1931 a 1960 aumentou para três bilhões de habitantes. Durante o período entre 1961 e 1975 elevou-se para quatro bilhões e em 1985 já eram cinco bilhões de habitantes, sendo atualmente mais de seis bilhões de habitantes (DANI, 1994).

4. UM CAOS SE INSTALA: impactos ambientais e desigualdades sociais

Sendo três elementos naturais indispensáveis á sobrevivência humana: ar, água e alimento, a humanidade caminha para um beco sem saída. Daqui a mais ou menos 100 anos, não haverá no planeta recursos para alimentar e aquecer os seres humanos. A continuar o atual ritmo de aumento populacional e exploração do planeta, em um século não haverá fontes de água, reservas de ar puro, terras para agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida (RODRIGUES, 1989). Mesmo na situação atual, em que metade da humanidade está abaixo da linha de pobreza, já se consome de 20% a 30% a mais do que a Terra consegue renovar. Se a população do mundo consumisse como nos EUA, seriam necessários mais quatro planetas iguais a este para garantir produtos básicos e serviços ecossistêmicos, como água, energia e alimentos para todo mundo (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Os campeões do consumo gastam mais de 40% da gasolina e mais água, alimentos, alumínio, papel e energia per capita do que qualquer outra sociedade. Julgam-se norte-americanos, “donos” da América do Norte, mas pretensiosamente se “acham” donos do mundo.  Segundo os padrões estadunidenses, quanto mais depressa um utensílio se estragar e for descartado, para se comprar um novo ou “melhor”, melhor será para a economia local e global.  

A Economia, do grego “eco”, casa e “nomos”, cuidado, não têm cumprindo com sua essência de cuidar da casa planetária. O aumento do nível do consumo é festejado pelos economistas como sinal do progresso econômico e maior distribuição da renda entre a população. Quanto maior for o consumo mais a produção aumentará e mais empregos estarão à disposição da população. A análise puramente econômica do ciclo de consumo, produção e renda esconde a lógica perversa do mercado que agride o meio ambiente e também a sociedade. Quanto maior o consumo/produção/renda, maior será o impacto sobre o meio ambiente, gerando degradação, desperdício e resíduos (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). A lógica do “todos devem consumir cada vez mais” esquece que o planeta Terra, tem recursos finitos, limitados e que no atual nível de consumo a sobrevivência da espécie humana, e de todas as demais que dependem dos recursos naturais, estará seriamente ameaçada. No entanto, a comunidade mundial continua em desenfreado consumismo, onde máquinas, roupas e outros produtos são decretados obsoletos em função da moda ou de uma pretensa comodidade. Assim recursos naturais serão transformados em lixo numa velocidade e volume impressionantes (RODRIGUES, 1989).

O consumo intenso gera um ciclo de impactos ambientais irreversíveis: a extração de recursos naturais (1o ciclo) que transformados pelos processos industriais (2o ciclo) viram produtos a serem consumidos (3o ciclo). Resultado final: além das agressões e dos danos da extração e da transformação, o consumo faz com que papéis, restos alimentares, latas, vidros, sacos plásticos, sejam descartados, misturados e colocados diariamente na porta de casa (RODRIGUES, 1989). Para a maioria da população o problema termina quando o lixo é levado pelo caminhão, mas para o planeta o problema está só começando. Isso quando ele não é despejado no rio mais próximo, ou nos lixões, sem qualquer controle. Ao passo que o aumento populacional gera impactos ambientais comprometendo a qualidade de vida, existe outra realidade, também fruto do atual modelo econômico: as desigualdades sociais (RODRIGUES, 1989). Todos os anos, em torno de 60 bilhões de dólares são gastos com cruzeiros em navios, maquiagem, perfumes, sorvetes, além dos gastos com armas e equipamentos bélicos. Mas bastaria 44 bilhões de dólares anuais para eliminar a fome no mundo, prover água de boa qualidade, imunizar todas as crianças contra doenças transmissíveis e dar saúde reprodutiva a todas as mulheres (PORTO-GONÇALVES, 2006). É verdade que os padrões de consumo da sociedade dos EUA não se aplicam a toda humanidade. De novo exemplifica-se a África, onde bilhões de pessoas não têm sequer o necessário para sobreviver, quanto mais para consumir.

A ONU vem repetindo em seus relatórios sobre o desenvolvimento humano, que quase metade dos seres humanos, vivem abaixo da linha da pobreza. Enquanto o crescimento econômico no mundo desde 1950 multiplicou por sete, o PIB mundial, a disparidade de renda entre ricos e pobres dobrou (RODRIGUES, 1989). Outro problema é o desperdício. A falta de cuidado com os alimentos no Brasil é mensurada pelo volume que vai para o lixo diariamente: 70 mil toneladas, enquanto, 50 milhões de brasileiros não têm o que comer. Apesar de imprecisas, as estimativas a respeito do desperdício no Brasil são assustadoras. (RODRIGUES, 1989) Pesquisadores calculam que alguns setores percam até 40% do que produzem como é o caso dos hortifrutícolas, setor de fundamental importância econômica e social. Isto significa que de cada 100 pés de alface plantados e colhidos, 40 não servirão de alimento e sim encherão as lixeiras, os lixões e os aterros sanitários. Nas feiras livres de todo o país, cerca de mil toneladas de alimentos, de todos os tipos que geraram impactos ambientais em sua produção, são desperdiçados por dia. (RODRIGUES, 1989) Na construção civil, a cada três prédios construídos joga-se fora material suficiente para a construção de mais um prédio. Parece até, que no Brasil, têm-se alimentos e moradia dignos para todos. Quando se trata de água, calcula-se que, em certas regiões do país, até 50% é desperdiçada, se consideradas as perdas com vazamentos, lavagens de carros e varrição de calçadas com a mangueira. Só no estado de São Paulo são desperdiçados 92 bilhões de litros por ano e os estados mais populosos seguem este mesmo exemplo. (RODRIGUES, 1989).

Infelizmente enquanto alguns jogam foram, outros “catam”. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IMBELLONI, 2008), em torno de 24.340 pessoas, nos 1.548 municípios brasileiros que forneceram dados a respeito, vivem do lixo urbano. Do total, 5.393 são crianças com menos de 14 anos (RODRIGUES, 1989). No entanto, a UNICEF calcula que sejam 35 mil crianças vivendo nessas condições. Sem emprego, famílias inteiras vivem do que conseguem nos lixões, espalhados por todo o país ou trabalham com a venda de materiais recicláveis, contribuindo para saúde do planeta, mas vivendo e trabalhando em condições pouco saudáveis e humanas (RODRIGUES, 1989). Outra questão preocupante são as migrações que causam o crescimento populacional acelerado nas grandes cidades ocasionando frequentes problemas urbanos e impactos ambientais. Para minimizar isso seria necessário fixar o homem no campo através de profundas reformas na estrutura agrária hegemonicamente pertencente ao latifundiário a ao agronegócio (DANI, 1994). Mas a questão da concentração de terras, não é um problema específico do campo. Mesmo nas grandes cidades é extremamente difícil ter acesso a um pequeno pedaço de terra para se construir moradia, devido aos elevados preços estimulados pela especulação imobiliária.

5. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: repensando o futuro de planeta

O planeta Terra, não se formou da noite para o dia e é o único que se tem notícia que acolheu a dádiva da vida, sendo, portanto uma casa comum que dispõe de recursos para as necessidades de todos, mas não para a voracidade de alguns. Mas será possível aos seres humanos viverem com qualidade de vida sem desrespeitar o direito à vida dos demais seres? Já se descobriu que o planeta tem limites, e embora a Terra seja uma, existem nela dois mundos: ricos e pobres (GONÇALVES; BARBOSA, 1988). Esta crise econômica, social, política e de valores traz inúmeros efeitos perversos. No entanto, ela constitui uma excelente oportunidade que de formular e construir um projeto novo de civilização que não se oponha à natureza, mas que se harmoniza com ela. As mudanças necessárias só serão possíveis através do comprometimento humano com um desenvolvimento econômico que assegure justiça social e preservação ambiental, garantindo qualidade de vida às atuais e futuras gerações, bem como o respeito a toda forma de vida existe na Terra. Parece ser a única saída, o desenvolvimento de novas fontes de energia, novos processos agrícolas, manejo sustentável dos recursos naturais, produção mais limpa, consumo consciente e Educação Ambiental, mas acima de tudo, formas mais adequadas de uso e distribuição das riquezas, novas formas de relacionamento entre os seres humanos, para que a Terra possa ser um dia um planeta com um só mundo, mais justo, harmônico e equilibrado (RODRIGUES, 1989).

A produção mais limpa tem por principal objetivo satisfazer as necessidades da sociedade por produtos ambientalmente corretos, através do uso de sistemas de energia eficientes e renováveis e matérias que não ofereçam risco e nem ameacem a biodiversidade do planeta, buscando uma forma de produção que reduza ou economize o uso de recursos naturais, água e energia (RODRIGUES, 1989). Viver em uma sociedade de consumo onde comprar e vender faz parte do cotidiano, demandam tempo, recurso e energia. Será que o homem precisa realmente de todos os produtos que consume? Boa parte do que se compra no dia-a-dia é fruto de uma falsa necessidade criada pela cultura do consumismo e dos bens descartáveis (DANI, 1994). O consumo sustentável é o uso de produtos que correspondem às necessidades básicas da população, ao mesmo tempo em que reduzem o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, produção de lixo, emissões de poluentes. Este consumo consciente tem implicações em toda a teia da vida, em todas as redes, em todos os ciclos que tornaram possível a vida no planeta.

A Educação Ambiental contribuirá no sentido de mudar o atual paradigma na cultura mundial, onde está muito enraizada a idéia de que o homem é o “dono do mundo” (DANI, 1994). A tradição cultural tem tratado a natureza como um mero objeto, uma mera fonte de matéria-prima, como se ela não tivesse autonomia. É preciso sensibilizar e conscientizar as pessoas para se estabelecer uma nova relação com a natureza, que seja verdadeiramente melhor e mais profunda, valorizando a vida e todas as suas formas de manifestação. Mas alguma coisa anda errada, pois o homem também é um dos seres da natureza e com ela tem que se relacionar, pois precisa dela para viver. Fábricas soltando fumaças, edifícios gigantescos, aglomerações urbanas enormes, congestionamentos de trânsito, desmatamento acentuado, agrotóxicos, poluição da água são temas cada vez mais comumente nos atuais meios de comunicação de massa.  E os seres humanos, precisam ter consciência disso, pois a solução só depende de quem as criou, por isso é necessário ir além das palavras, e incentivar ações no sentido de se conquistar efetiva qualidade de vida para todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O homem é um ser cultural, que ao se apropriar do espaço para sobreviver, modifica-o, resultando em impactos ambientais e sociais. Quanto mais este ser explorador e dominador se reproduzir descontroladamente maior será a reprodução dos impactos humanos na história do Planeta. Charles Chaplin, em “Caminho da Vida” alertava que “O caminho da vida pode ser o da liberdade e o da beleza”, porém nos perdermos completamente na história ambiental de nosso planeta. Para ele “a cobiça envenenou a alma dos homens, levantou inúmeras muralhas do ódio, e tem nos feito marchar a passos de ganso para a miséria e morticínios”. Vivemos a época da velocidade, com pessoas vendendo presença e entregando ausência como produto final. E na perspectiva da velocidade dos dias, do “não tenho tempo”, vê-se nitidamente a lentidão das coisas. Nada avançamos. Temos uma fantástica casa planetária, mas como diria Chaplin “nos sentimos enclausurados dentro dela”. A máquina, que produz abundância, nos deixa em penúria, tornando-nos miseráveis em meio à tamanha riqueza. Chaplin alega ainda que: “nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco”.

É bom considerar que o meio ambiente possui uma capacidade de suporte que se não for considerada levará a natureza a sucumbir devido à constante pressão humana. Mais gente significaria uma necessidade cada vez maior de recursos naturais a serem utilizados como matéria-prima na fabricação de bens de consumo. Se continuar o atual ritmo de crescimento populacional associado ao crescente consumismo, o planeta será levado à total exaustão dos conjuntos ecossistêmicos e ciclos biogeoquímicos que permitem à manutenção da vida. Que se imortaliza as palavras de Charles Chaplin “mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido”. Reflexões devem orientar a caminhada humana a partir de então, mas uma reflexão que conduza à ação individual de cada um, enquanto cidadão planetário. Só assim mudarão as perspectivas destrutivas que rondam o planeta. Que possa haver desenvolvimento econômico verdadeiramente associado à preservação social e à justiça social, para que os que aqui vivem atualmente, bem como aqueles que estejam por vir recebam à plenitude da dádiva da vida, e a vivam plenamente com muita qualidade, equilíbrio e harmonia.

Referências
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GONÇALVES, C. W. P.; BARBOSA, J. L.  Geografia Hoje – volume 1: a geografia da natureza.  Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1988. 181 páginas.
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LAMANA, C. X.; BRANCO, P. de M. Paleoproterozoico. In: Breve história da Terra. 2009. Disponível em: . Acesso em: 09 jun. 2014.
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MOURA, A. P. O Custo Ecológico do Antropoceno. In: Blog do Ricardo. Disponível em http://segundoblogdoricardo.blogspot.com.br/2015/11/antropoceno-e-o-custo-ecologico.html Acesso em 24. Jun. 2016
RODRIGUES, S. de A. Destruição e Equilíbrio: o homem e o ambiente no espaço e no tempo. São Paulo: Atual, 1989. 98 páginas.
PIRATELLI, A. J; FRANCISCO, M. R. (org), Conservação da biodiversidade: dos conceitos às ações. Rio de Janeiro: Technical Books, 2013.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Efeito Estufa e capitalismo. In: Revistas Eco21, nº 119, junho de 2006
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Informações Sobre os Autores

Ludimila de Miranda Rodrigues Silva

Bacharela em Geografia IGC/UFMG. Discente do Curso de Pós-Graduação em Geografia Mestrado – área de Concentração em Organização do Espaço – IGC/UFMG. Pesquisadora do Grupo de Pesquisas Terra Sociedade – Núcleo de Estudos em Geografia Agrária Agricultura Familiar e Cultura Camponesa

Vagner Luciano de Andrade

Bacharel/Licenciado em Geografia e Análise Ambiental pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH e pós-graduado em Administração Escolar, Orientação Educacional e Supervisão Pedagógica, com linha de pesquisa na área de Ciências Sociais, Educação do Campo e Humanidades pela UNIASSELVI. Mestre em Direção e Consultoria Turística pela Universidad Europea Del Atlántico (Espanha)

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